Com mais de uma década de experiência em banca, empreendedorismo e liderança, Edwin partilha connosco uma visão profunda e sem filtros sobre o presente e o futuro do sector. Desde a evolução do open finance até aos desafios de escalar um negócio na região, passando pelo papel da regulação, do investimento e da confiança do consumidor final.
Edwin Zácipa,"O que fazemos é dar visibilidade, conectar e apoiar todos os intervenientes que estão a impulsionar o sector fintech na América Latina."
Fundador e Presidente do Fintech Latam Hub.
O percurso de Edwin Zácipa: Da banca tradicional ao coração do fintech
O nosso convidado começou a entrevista com uma revisão do seu percurso profissional. A sua experiência começou na banca tradicional na Colômbia, onde se especializou em inteligência de negócios e desenvolvimento de modelos estatísticos para estratégias comerciais.
Contudo, a sua inquietação pela inovação levou-o a mergulhar completamente no empreendedorismo. “Fundei startups do zero até conseguir levantar capital, falhei, aprendi... Cheguei a ter a minha própria fintech,” confessou com honestidade e humor.
Edwin decidiu então criar a Associação Fintech da Colômbia, onde ajudou a construir o movimento desde as suas fundações. Atualmente lidera o Latam Fintech Hub, a comunidade fintech mais ativa da América Latina, com mais de 30.000 membros.
A influência de Edwin no ecossistema financeiro latino-americano
Além do seu trabalho no Hub, Edwin é consultor de instituições financeiras, meios de pagamento, seguradoras, fundos e bancos em toda a região. “Sou advisor, membro de conselhos de administração, consultor, mentor de inúmeras empresas de todos os níveis e dimensões,” detalhou, mostrando o alcance da sua influência.
Mesmo no seu tempo livre, dedica-se ao ensino e a partilhar a sua experiência com comunidades universitárias como a AFI em Espanha, onde dá aulas sobre pagamentos digitais e open finance. “Você compartilha mestrado com o nosso CEO e cofundador, David Conde,” comentou Juanjo, para sua surpresa.
O panorama fintech na América Latina: Diversidade, crescimento e desafios
O nosso CMO interessou-se pela situação atual do setor fintech na região. Edwin foi claro: “A indústria fintech é uma indústria muito heterogénea, com modelos de negócio de diferentes dimensões, naturezas... Todos funcionam de forma distinta, com velocidades e públicos diferentes.”
O nosso convidado sublinhou que a região vive o seu melhor momento. “O boom fintech mantém-se, fala-se de mais de 4.000 iniciativas fintech mapeadas em toda a região,” apontou. Brasil, México e Colômbia lideram a atividade, não só pelo número de startups, mas também por cinco variáveis-chave: Regulação, investimento, talento, procura e infraestrutura.
Regulação
Edwin explicou: “Cada país tem uma agenda regulatória em torno das fintechs bastante intensa.” Deu como exemplos a discussão sobre moedas digitais no Brasil, a revisão da lei fintech no México e a implementação de pagamentos imediatos na Colômbia.
Investimento
O atrativo da região para os fundos globais, especialmente de capital de risco e capital privado, é inegável: “A América Latina é a melhor praça para os investidores globais,” afirmou. Além disso, o presidente do Latam Fintech Hub destacou a profissionalização do talento e a importância da procura.
Talento
O nosso convidado sublinha que se está a capacitar rapidamente. As exigências do setor tecnológico estão a ser satisfeitas por uma força de trabalho com grande especialização e ampla formação. A indústria financeira está a recrutar os melhores developers para conseguir manter-se relevante.
Procura
Para Edwin, este é o critério mais importante, já que a região ainda apresenta uma baixa taxa de inclusão financeira e é necessário colmatar a lacuna existente em termos de acesso e uso de serviços bancários. “A América Latina é um mercado sexy para implementar este tipo de modelos de negócio,” assegura.
Infraestrutura
Este aspeto encontra-se em plena modernização, com bancos a colaborarem com fintechs e a desenvolverem novos modelos de integração. “Cada vez mais os bancos estão a integrar-se, a modernizar as suas infraestruturas, colaborando precisamente com este tipo de negócios,” observou.
Os aprendizados fintech têm um “efeito contágio” na região
Juanjo quis saber o que podem aprender outros países da América Latina com os líderes regionais: Brasil, Colômbia e México. Edwin assinalou que, embora cada mercado tenha as suas particularidades, existe um “efeito contágio” na adoção de inovações.
“Tudo o que fazemos num país estamos a implementar de seguida noutro,” explicou. Por exemplo, a conversão para open finance e pagamentos imediatos na Colômbia seguem os passos do Brasil, enquanto países da América Central começam a explorar carteiras digitais e serviços financeiros na nuvem.
O pulso do investimento: luzes e sombras para 2025
O dirigente reconheceu então que o cenário atual é desafiante, após anos de liquidez abundante depois da pandemia. “As fintech continuam a ser a menina dos olhos do ecossistema,” garantiu, referindo que quase 50% do capital de risco tecnológico continua a apostar no setor.
No entanto, os volumes de investimento voltaram aos níveis pré-pandemia. “A América Latina teve um 2021 em que angariou – tanto dívida como capital – mais de 13 mil milhões de dólares... Hoje não ultrapassamos os 3 mil milhões," comentou.
O endurecimento das condições financeiras, a inflação e a pressão pela rentabilidade obrigaram as empresas a serem mais disciplinadas. Apesar da cautela de alguns investidores, Edwin mostrou-se otimista para 2025: “Este primeiro trimestre já começou muito bem.” Citou rondas destacadas como a da Solfácil no Brasil (170 milhões de dólares), Plata no México (160 milhões) e Clara (80 milhões).
A comunidade de referência na região: Latam Fintech Hub
A conversa focou-se então no papel do Latam Fintech Hub, a comunidade que Edwin lidera. O nosso convidado explicou como nasceu o Hub no início de 2020, em plena pandemia, como resposta à falta de informação e articulação regional no setor.
“Esse foi o propósito com que arrancámos o Hub, como um espaço onde se pudesse consolidar de alguma forma o avanço da indústria,” recordou. De portal informativo passou a ser uma comunidade aberta que reconhece as pessoas por trás das empresas fintech, “os que estão a fazer essas mudanças poderosas no setor.”
O Latam Fintech Hub assenta em três linhas de ação: a geração de conteúdos e monitorização diária do setor, a criação de espaços de ligação e networking em toda a região, e uma linha de consultoria e banca de investimento.
💡 Edwin Zácipa disse...
“Quando uma startup quer entrar no mundo fintech, nós ajudamos a estruturar o seu caso de negócio de ponta a ponta."
A escalabilidade perfila-se como principal desafio das fintechs
O nosso entrevistado explicou que construir negócios rentáveis, sustentáveis e replicáveis em diferentes mercados e nichos continua a ser complexo. “Na Colômbia nascem carteiras digitais todos os dias, mas também morrem muitas,” comentou.
A escalabilidade cruza-se com a necessidade de investimento e regulação. “Para ser escalável preciso de financiamento, mas para que me invistam preciso que o regulador me dê a licença; e para que o investidor invista em mim preciso de mostrar contas saudáveis,” resumiu Edwin. É o dilema do ovo e da galinha!
Hoje, os títulos mais aplaudidos já não são o número de utilizadores ou de downloads, mas sim as fintechs que alcançam o ponto de equilíbrio. “Essa é uma métrica que está a ser exigida não só pelo investidor, mas por toda a indústria,” apontou. A rentabilidade e a sustentabilidade social e ambiental tornaram-se também num padrão de sucesso.
Colaboração e o futuro da integração fintech-banca
Juanjo interessou-se então pela colaboração entre bancos e fintechs, um tema-chave para o setor na Europa. Edwin celebrou que na América Latina se tenha superado a visão antagónica: “Inicialmente consideravam as fintechs uma ameaça, mas hoje o discurso é de cooperação.”
Explicou que os bancos têm arquiteturas robustas mas lentas, enquanto as fintechs são ágeis mas com capacidade instalada limitada. “Por isso se fala em colaboração,” disse, e partilhou o termo “fintegração” para descrever os modelos de cooperação entre ambos os mundos.
Edwin diferenciou entre inovação fechada (os bancos que inovam sozinhos) e inovação aberta (os que procuram parcerias). “Aquelas entidades financeiras que aplicam uma estratégia de inovação aberta aceleram os seus ciclos de I&D&I, encontram novas procuras, novos nichos e novas fontes de rendimento,” assegura.
Conselhos para as fintechs que aterram na América Latina
Por fim, pedimos a Edwin algumas recomendações para as fintechs que procuram expandir-se na América Latina. O nosso convidado destacou a necessidade de compreender a fundo a regulação de cada país, estabelecer alianças estratégicas e contar com um modelo de negócio suficientemente flexível para se adaptar e escalar rapidamente.
Antes de terminar, quis deixar uma mensagem clara: “O sistema financeiro na América Latina baseia-se na confiança,” e esse deve ser o ponto de partida para qualquer empresa que queira estabelecer-se com sucesso na região.
“O requisito principal é: como construir confiança? Creio que estar supervisionado pelo regulador é o motor de confiança mais potente.” Para Edwin, obter uma licença e tornar-se um ator reconhecido e legítimo marca um antes e um depois para qualquer fintech que aspire a crescer na América Latina.
Gostou deste resumo? Não perca o próximo episódio do nosso podcast, onde continuamos a explorar o futuro dos serviços bancários, da inovação e da tecnologia financeira na região. Obrigado pela leitura!