Entrevista a Joaquín Fagalde da Depay: quebrando as barreiras de pagamento com QR

A transformação digital dos pagamentos na América Latina avança a passo firme, e a Depay tornou-se uma das fintechs mais inovadoras do setor. O seu fundador e CEO, Joaquín Fagalde, conta-nos nesta entrevista como estão a revolucionar as transações transfronteiriças com tecnologia blockchain, pagamentos com criptomoedas e sistemas interoperáveis com QR.

Sumário

A Depay também prioriza oferecer alternativas mais rentáveis aos seus utilizadores, promovendo uma maior inclusão financeira e democratizando o acesso aos serviços de pagamento mais inovadores.

 
 
Joaquín Fagalde,
CEO e fundador da Depay.

De intraempreendedor a CEO: A origem da Depay

Joaquín Fagalde nem sempre esteve no setor fintech. Depois de concluir os seus estudos em Economia, a sua trajetória começou no mundo corporativo. Trabalhou para a AB InBev, uma das maiores cervejeiras do mundo. Durante a sua passagem pela empresa, liderou um projeto cripto em 2020 que procurava permitir pagamentos em criptomoedas a grande escala.

“Passei um ano e meio a tentar que uma empresa do tamanho da AB InBev pudesse receber pagamentos em cripto, mas não encontrámos em nenhum lugar do mundo uma infraestrutura que o fizesse de forma eficiente”, comentou Fagalde.

A falta de soluções no mercado levou-o a fundar a Depay, com um objetivo claro: construir infraestruturas de pagamento que permitissem a grandes empresas processar transações com criptomoedas e dinheiro digital na América Latina.

O desafio dos pagamentos na LATAM: Economia informal e baixa bancarização em certas regiões

Um dos maiores desafios da região é a grande dependência do dinheiro em espécie. Segundo Fagalde, isso deve-se a dois fatores principais:

  • Economia informal: Alguns países da América Latina têm uma elevada percentagem de transações fora do sistema bancário.
  • Baixa bancarização: Milhões de pessoas ainda não têm acesso a contas digitais ou serviços financeiros formais.

No entanto, a digitalização na América Latina está a crescer, e as fintechs estão a desempenhar um papel essencial nesta transformação. Os pagamentos com QR tornaram-se um grande catalisador da mudança, permitindo que comerciantes e consumidores acedam a soluções de pagamento mais eficientes e econômicas.

Interoperabilidade e pagamentos transfronteiriços: A proposta da Depay

A visão da Depay é ambiciosa: criar uma rede de pagamentos sem fronteiras que permita transações instantâneas em toda a América Latina. Atualmente, a fintech já permite que os utilizadores paguem em estabelecimentos de outros países com a sua moeda local. Por exemplo, um argentino com pesos na sua carteira digital pode escanear um QR no Brasil e realizar um pagamento sem necessidade de trocar dinheiro ou usar um cartão de crédito.

“Podemos receber pesos na Argentina e deixar soles no Peru em segundos. Podemos receber pesos colombianos e convertê-los em pesos chilenos quase em tempo real”, explica o CEO. Este sistema baseia-se em blockchain e infraestruturas de pagamento interoperáveis, o que permite reduzir custos e eliminar intermediários desnecessários.

A Depay permite que qualquer carteira, local ou global, se integre na sua plataforma e realize pagamentos na América Latina. Os países onde hoje existem sistemas interoperáveis são Argentina, Brasil, Paraguai, Peru, Bolívia e Colômbia, mas a lista continua a crescer.

Criptomoedas como alternativa aos cartões de crédito

Além dos pagamentos com QR, Juanjo interessou-se pela infraestrutura de cobrança em cripto que a Depay desenvolveu para adquirentes e processadores de pagamentos tradicionais. Graças a esta tecnologia, qualquer comércio que aceite pagamentos com cartão pode ativar cobranças em criptomoedas sem necessidade de gerir ativos digitais diretamente.

“Os adquirentes podem processar pagamentos em cripto e receber a liquidação na sua moeda local no final do dia. Não precisam de tocar nas criptomoedas em momento algum, nós tratamos de todo o processo”, assegurava Joaquín.

Esta solução foi pensada para bancos, adquirentes e processadores de pagamentos, e não para utilizadores finais, tornando-se uma alternativa sólida e escalável às redes tradicionais de cartões..

“Oferecemos infraestruturas de pagamento baseadas em blockchain”, indicou. “Em vez de conectar terminais POS a bancos, conectamos os terminais a carteiras cripto. Não somos uma carteira, apenas fornecemos os ‘carris’ que permitem este tipo de pagamento.”

Pagamentos com QR: Por que triunfam na LATAM e não na Europa

Ao contrário de mercados como a Europa ou os EUA, os pagamentos com QR cresceram exponencialmente na América Latina. Fagalde atribui este sucesso a razões económicas, mais do que culturais.

  • Custos de processamento: Na Europa, aceitar pagamentos com cartão custa entre 0,3% e 0,5% para um comerciante. Na América Latina, supera 2,5%, o que torna os pagamentos com QR uma alternativa mais barata.
  • Tempos de liquidação: Em alguns países, um comerciante pode demorar até 30 dias a receber o pagamento de uma transação com cartão de crédito. Com QR, o dinheiro é creditado instantaneamente.
  • Interoperabilidade: Na LATAM, as carteiras digitais impulsionaram pagamentos com QR sem custo para os comerciantes, incentivando a sua adoção. Os pagamentos de conta para conta tornam-se, assim, muito mais ágeis e sem intermediários.

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O futuro da Depay: Pagamentos sem fronteiras e mais inclusão financeira

O CEO da Depay tem uma visão clara para o futuro: tornar a empresa a principal infraestrutura de pagamentos de toda a América Latina. “Queremos que qualquer pessoa possa enviar dinheiro da sua carteira na Argentina para uma no Peru em segundos. Que alguém na Colômbia possa pagar uma fatura no México sem complicações. O nosso objetivo é interligar a América Latina com pagamentos instantâneos,” declara o nosso convidado.

O caminho não está isento de desafios. A regulamentação em cada país é diferente e, em muitos casos, a tecnologia avança mais rápido do que as normas. No entanto, a Depay trabalha ativamente com bancos e reguladores para garantir a segurança e a transparência do seu sistema.

"Os bancos são aliados fundamentais. Baseamo-nos na sua infraestrutura e licenças para desenvolver soluções que beneficiem toda a região.” Contam com parceiros bancários em todos os países onde operam e o benefício é mútuo, pois as grandes corporações aproveitam as suas constantes inovações e novos casos de uso.

💡 Joaquín Fagalde disse...

Estamos perante a revolução dos pagamentos na LATAM?

A Depay está a liderar uma revolução nos pagamentos digitais na América Latina, combinando blockchain, interoperabilidade e pagamentos com criptomoedas para criar uma rede de transações instantâneas e sem fronteiras. O surgimento de novos casos de uso representa uma oportunidade constante para esta fintech.

O seu crescimento demonstra que a transformação financeira na região já está em marcha, com soluções que procuram maior inclusão, menos custos e mais eficiência para consumidores e comércios.

À medida que a digitalização avança e mais pessoas acedem a serviços financeiros digitais, empresas como a Depay desempenharam um papel fundamental no futuro do dinheiro na América latina.

Será esta a fintech que conseguirá conectar toda a região? Certamente daremos a notícia muito em breve! Obrigado por nos acompanhar e fique atento às nossas redes sociais para não perder novos e interessantes episódios de The Fintech Podcast.

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