Este economista visionário cansou-se de ver milhões de pessoas excluídas do sistema financeiro tradicional e decidiu usar a sua experiência em gestão de risco para tornar o crédito mais acessível. Não perca esta entrevista e descubra como a inovação pode transformar a vida de milhões de pessoas!
Óscar Gutiérrez,“Graças ao BaaS, o Bancolombia está presente na BioCredit, financiando as compras dos consumidores finais”.
CEO e fundador da BioCredit e da Akaike Credit Risk Solutions.
De consultor a CEO: a trajetória de um visionário
Óscar Gutiérrez é economista de profissão. Iniciou a sua carreira como consultor júnior numa empresa especializada em risco de crédito. Após vários anos de imersão nesse universo, assumiu funções como Diretor de Risco em grandes corporações, até concluir que era necessário democratizar o acesso ao crédito.
Segundo o nosso convidado, existia uma lacuna no mercado de crédito pessoal: “Muitas pessoas desconheciam o número de entidades a que podiam recorrer para solicitar um empréstimo. Dirigiam-se diretamente aos bancos, mas na Colômbia existem mais de 3.000 cooperativas e 370 fintechs. Era necessário ligar os pontos!” comentou, sorrindo.
BioCredit e Akaike: duas faces da mesma moeda
BioCredit: crédito plug & play para todos
Juanjo interessou-se pela proposta da BioCredit. Óscar explicou: “Se trata de uma fintech de infraestrutura tecnológica que permite a qualquer entidade oferecer crédito de forma plug & play. Imagine uma loja de bairro a financiar telemóveis ou eletrodomésticos sem precisar de conhecer os mecanismos de análise de crédito ou de recorrer a assinaturas eletrónicas. A BioCredit trata de todo o processo”.
O modelo opera de duas formas: na primeira, é o próprio comerciante que oferece crédito direto aos seus clientes, permitindo-lhes levar o produto e pagá-lo em prestações. Na segunda, entram em cena instituições financeiras como o Bancolombia ou o Banco de Bogotá, funcionando como um marketplace financeiro. Estas instituições concedem o crédito ao comprador, permitindo ao comerciante focar-se exclusivamente na venda, sem assumir riscos financeiros.
Akaike: inteligência artificial que antecipa riscos
Relativamente à sua segunda startup, Óscar explicou que a “Akaike não é uma IA generativa como o ChatGPT, mas sim uma IA preditiva, capaz de analisar dados não estruturados para prever comportamentos de pagamento. O objetivo? Permitir que até a cooperativa mais pequena possa conceder crédito com a precisão de um banco”.
Utilizando modelos personalizados com técnicas de inteligência artificial, redes neuronais e machine learning, a Akaike possibilita que qualquer entidade credora baseie as suas decisões em previsões geradas por IA e“dados não tradicionais”, afirmou.
O ecossistema Fintech colombiano: oportunidades e desafios
Questionado sobre o estado do setor, Óscar apresentou uma perspetiva otimista: “Colômbia é referência na região, com 370 fintechs registadas na associação Colombia Fintech e iniciativas como o sistema de pagamentos imediatos do Banco da República, inspirado no Pix brasileiro”.
Contudo, reconheceu dois grandes desafios: a lenta adoção do Open Banking: “A regulamentação existe, mas a implementação real ainda está aquém. As entidades tradicionais continuam relutantes em partilhar dados,” explicou –e a persistência do crédito informal conhecido como gota a gota: “Trata-se de um sistema de agiotagem com taxas abusivas, que frequentemente terminam em tragédias. Segundo Óscar, as fintechs devem oferecer alternativas seguras”.
Inclusão financeira: o crédito como instrumento de transformação
Juanjo abordou a necessidade de reduzir a lacuna no acesso ao crédito pessoal, num país onde 30% da população continua subbancarizada. Óscar foi claro: “No que toca a depósitos, há progressos com plataformas como Nequi ou Daviplata, que já contam com milhões de utilizadores. O verdadeiro desafio reside no crédito. Muitos cidadãos não possuem histórico de crédito ou os seus dados não se enquadram nos padrões tradicionais”.
A solução, segundo Óscar, está nos dados não tradicionais: “ao utilizar a BioCredit, é possível analisar quantas vendas um comércio realiza por mês, a frequência dos clientes, ou mesmo a sua interação nas redes sociais. Esses dados valem mais do que um scoring clássico”
Open Banking: O Santo Graal ou uma promessa vã?
Falando sobre open banking, Óscar combinou otimismo com ceticismo: “Em teoria, é revolucionário — o utilizador torna-se dono dos seus dados e decide com quem os partilhar. Na prática, ainda falta muita educação sobre o tema. As pessoas não compreendem o quanto podem beneficiar ao partilhar a sua informação em ambientes seguros”. Para ele, o verdadeiro product-market fit ainda está por alcançar.
No entanto, vê oportunidades reais na América Latina: “Imagine que um cliente autoriza o acesso ao seu histórico de pagamentos numa loja de ferragens. Com essa informação, uma cooperativa poderia conceder-lhe crédito para expandir o negócio. Isso é inclusão financeira real!” afirmou o nosso convidado.
Banking as a Service (BaaS): o banco como motor invisível
A conversa evoluiu para o Banking as a Service –uma tendência que permite a qualquer e-commerce, loja de conveniência ou startup oferecer crédito ou pagamentos em prestações. Óscar explicou com entusiasmo: “Graças ao BaaS, o Bancolombia –o maior banco do país– está presente na BioCredit, financiando as compras dos consumidores finais”.
Destacou ainda que, embora o modelo enfrente desafios, o Bancolombia é uma das poucas instituições a tratá-lo com seriedade. “Falamos diariamente com instituições e trabalhamos em conjunto. Acredito que finalmente compreenderam que as fintechs não são concorrência nem um risco. Estamos aquí para colaborar.”
O BaaS permite que o banco funcione como o backend de todo o ecossistema, desde pagamentos até concessão de crédito, sem a complexidade da infraestrutura tradicional. "É uma das grandes inovações que vai aproximar fintechs e instituições financeiras tradicionais, criando um ponto de encontro que trará benefícios diretos para o utilizador final", assegurou Oscar.
💡 Óscar disse...
“Até o tomate que compra no mercado pode ser um dado valioso (para criar uma pontuação de crédito)… se souber interpretá-lo.”
Pagamentos instantâneos: a revolução do Bre-B
A conversa tornou-se ainda mais interessante quando Juanjo pediu a Óscar que explicasse o fenômeno do Bre-B, o sistema de pagamentos instantâneos que está a transformar o setor financeiro na Colômbia. “O Bre-B vai mudar muita coisa na Colômbia. Antes, as transferências demoravam dias para chegar à conta”, comentou o CEO. O resultado? Um sistema pesado, lento e, claro, dispendioso para o utilizador final.
O Bre-B rompe com esse modelo: “Permite pagamentos instantâneos, independentemente da conta onde tenha o seu dinheiro –banco, cooperativa ou fintech", continuou. “Pode pedir o empréstimo às 10 da manhã e às 10:01 já está refletido na sua conta. Às 10:02, já pagou o que tinha a pagar.” Este sistema também beneficia os comerciantes.
Segundo o fundador da BioCredit e da Akaike, a evolução para soluções mais eficientes no modelo Buy Now Pay Later (BNPL) permitirá que o valor chegue mais rapidamente aos comerciantes, possibilitando-lhes reinvestir esse capital no crescimento dos seus negócios.
Inovação fintech: inteligência artificial ao serviço da prevenção de risco
A Akaike nasceu este ano com a missão de levar a inteligência artificial aos processos de concessão de crédito. “Queremos construir um analista sénior de crédito que conheça todo o seu histórico de vendas enquanto comerciante. Que saiba quem lhe pagou bem, quem lhe pagou mal, que analise padrões e que, quando surgirem novas pessoas com esses mesmos padrões, consiga antecipar o risco.”
A IA da Akaike alimenta-se de múltiplas fontes de dados e está em constante evolução, permitindo às entidades melhorar até 25% os seus indicadores de carteira vencida. Assim o demonstram as simulações realizadas recentemente pela empresa com dados sintéticos. “Estamos a falar de poupanças de milhões de dólares”, garantiu Óscar.
O futuro: bancos vs. Fintechs ou alianças estratégicas?
Para encerrar a entrevista, Juanjo lançou a pergunta de um milhão: serão as fintech grandes aliadas da banca tradicional? Óscar respondeu sem hesitar: “Sem dúvida, complementamo-nos. Os bancos têm escala e solidez; nós temos agilidade e inovação. Juntos, conseguimos chegar a sítios onde antes só existia o crédito informal.”
O objetivo deste empreendedor é tornar o crédito mais acessível, simples e justo. Não se trata de usar a inteligência artificial para substituir as pessoas, mas sim de compreender melhor o mercado. Óscar resumiu-o de forma brilhante: “Ninguém se endivida para guardar dinheiro, endivida-se para alcançar algo. E aí está a chave. Porque, se entendermos para que é que uma pessoa quer o crédito, também sabemos como ajudá-la.”
“Trabalhar com os grandes bancos permite-nos estar mais próximos das PME e da população em geral”, recordou o nosso convidado. Juanjo anuiu e referiu que o mercado B2B apresenta atualmente menos saturação no que diz respeito a prestadores de crédito, o que representa uma oportunidade de crescimento para a BioCredit.
O CEO e fundador da Akaike e da BioCredit assegura que ambas as empresas tornarão o padrão tecnológico da indústria do crédito, facilitando os processos e alargando a base de clientes e os casos de uso nos próximos meses. Juanjo agradeceu-lhe a generosidade por partilhar o seu tempo e conhecimentos com os ouvintes.
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